26/02/2012

Do meu jeito








Do meu jeito

entre lençóis de linho
e um cobertor
eu te faço carinho
te cubro de amor

te aqueço de um jeito
que só eu sei fazer
e no seu peito me deito
depois do prazer.

Valquíria Cordeiro




10/01/2012

Um Rosto




Apenas
uma coisa inteiramente transparente:
o céu, e por baixo dele a linha obscura do horizonte
nos teus olhos, que pude ver ainda
através de pálpebras semicerradas, pestanas húmidas
da geada matinal, uma névoa de palavras murmuradas
num silêncio de hesitações. Há quanto tempo,
tudo isto? Abro o armário onde o tempo antigo
se enche de bolor e fungos; limpo os papéis,
cartas que talvez nunca tenha lido até ao fim, foto-
grafias cuja cor desaparece, substituindo os corpos
por manchas vagas como aparições; e sinto, eu
próprio, que uma parte da minha vida se apaga
com esses restos.

Nuno Júdice

09/12/2011

Delírio









Nua, mas para o amor não cabe o pejo
Na minha a sua boca eu comprimia.
E, em frêmitos carnais, ela dizia:
? Mais abaixo, meu bem, quero o teu beijo!

Na inconsciência bruta do meu desejo
Fremente, a minha boca obedecia,
E os seus seios, tão rígidos mordia,
Fazendo-a arrepiar em doce arpejo.

Em suspiros de gozos infinitos
Disse-me ela, ainda quase em grito:
? Mais abaixo, meu bem! ? num frenesi.

No seu ventre pousei a minha boca,
? Mais abaixo, meu bem! ? disse ela, louca,
Moralistas, perdoai! Obedeci...

Olavo Bilac


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