02/10/2015

Tout est dejá mort...







Tout est déjà mort
sommes-nous les fleurs sur les tombes
sommes-nous les vases renversés du vent
sommes-nous l'eau qui stagne dans l'arrosoir des mémoires
et sommes-nous les larmes sur la faïence brisée
Sommes-nous l'ombre des monologues
à la lumière éphémère des voix
sommes-nous les vestiges des souvenirs que nous fûmes
sommes-nous des jalons de vies pétrifiés
sommes-nous d'anciens cratères d'ancien tumultes
sommes-nous les spectres des amours fusillés debout
sommes-nous les ruines des sentiments anciens
sommes-nous posés là comme un alphabet oublié
depuis toujours et pour toujours
sommes-nous là dans l'incapacité de presque tout
comme si tout était déjà mort.

Jacques Dore



05/05/2014

Os poemas são pássaros...





Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

Mario Quintana


06/01/2014

Ternura





TERNURA

Desvio dos teus ombros o lençol
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do Sol,
quando depois do Sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
em que uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!


DAVID MOURÃO-FERREIRA, in MÚSICA DE CAMA (Presença, 1996)



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