09/10/2011

Espaço curvo e finito









Espaço curvo e finito


Oculta consciência de não ser,
Ou de ser num estar que me transcende,
Numa rede de presenças e ausências,
Numa fuga para o ponto de partida:
Um perto que é tão longe, um longe aqui.
Uma ânsia de estar e de temer
A semente que de ser se surpreende,
As pedras que repetem as cadências
Da onda sempre nova e repetida
Que neste espaço curvo vem de ti.
José Saramago


(In OS POEMAS POSSÍVEIS, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1981. 3ª edição)


07/08/2011

Mea Culpa







Não duvido que o mundo no seu eixo
Gire suspenso e volva em harmonia;
Que o homem suba e vá de noite ao dia,
E a homem vá subindo insecto e seixo.

Não chamo a Deus tirano, nem me queixo,
Nem chamo ao céu da vida noite fria;
Não chamo à existencia hora sombria;
Acaso, à ordem; nem à lei desleixo.

A Natureza é minha mãe ainda...
É minha mãe ...Ah, se eu à face linda
Não sei sorrir; se estou desesperado;

Se nada há que me aqueça esta frieza;
Se estou cheio de fel e de tristeza...
É de crer que só eu seja o culpado!

Antero de Quental



20/07/2011

Os Amantes de Novembro




Virginia Palomeque

Os Amantes de Novembro

Ruas e ruas dos amantes

Sem um quarto para o amor

Amantes são sempre extravagantes

E ao frio também faz calor

Pobres amantes escorraçados

Dum tempo sem amor nenhum

Coitados tão engalfinhados

Que sendo dois parecem um

De pé imóveis transportados

Como uma estátua erguida num

Jardim votado ao abandono

De amor juncado e de outono.

Alexandre O'Neill


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