03/12/2015

Quem te pudesse ver



Quem te pudesse ver na intimidade
ondulando nas chamas do desejo,
podia ver aquilo que eu só vejo:
um diabo vicioso em liberdade.


E quem te vê, assim, em sociedade,
frágil e doce como é o poejo,
corando simplesmente com um beijo,
não poderá saber qual a verdade:

se és uma, se és outra, se és nenhuma,
se tudo em ti é feito por medida,
se és talhada em basalto ou se és espuma.

Mas nem que nisso gaste toda a vida,
eu hei-de descobrir-te. Ver-te, em suma,
na minha cama nua e não despida.

Joaquim Pessoa
In: O Poeta Enamorado, 2015


Foto: Karol Baxrbosa

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